O mundo anda chato

Sim, o mundo anda chato.

E isso não tem absolutamente nada a ver com se sentir desconfortável com o direito de qualquer minoria.

Eu entendo que a geração Z acredite que o big bang tenha acontecido em 1998, entre um intervalo e outro do Fantástico. Mas a verdade é que a gente vem evoluindo com as minorias há mais de cento e cinquenta anos. Gays, negros e mulheres vêm gradativamente melhorando suas posições sociais desde o tempo em que lacração ainda significava apenas fechar ou isolar alguma coisa.

Nada disso começou com o BuzzFeed. Nem com o Obama. Nem com a Beyoncé. Nem com o PSOL. Nem com toda aquela gente multimilionária de Hollywood. Nem com a Marcia Tiburi. Nem com qualquer pessoa que não tenha idade suficiente pra ter visto os capítulos originais de O Fantástico Mundo de Bobby na tv.

Gays, negros e mulheres vêm paulatinamente adquirindo tratos sociais melhores ao menos desde a popularização dos manuais de alfabetização no final do século dezoito. Foi uma longa corrida até aqui. Duríssima. Contra os nossos próprios demônios. E ainda existem barreiras de aceitação a serem superadas.

Mas o mundo não anda um lugar chato porque gente violenta deveria ser colocada atrás do xilindró. Nem porque as mulheres conquistaram o direito de sair de casa. Ou porque é extremamente inoportuno ter que encarar todos os dias gente tentando te encoxar no busão.

O mundo anda chato porque todas essas batalhas já não são mais travadas nas delegacias e nos tribunais, mas nos dicionários e na publicidade. Anda chato porque sobra politics e falta policy. Porque sobra fanfic e falta autocrítica. Porque o monopólio político da força de alguns grupos ideológicos não passa de uma polícia moralista mequetrefe disposta a silenciar e censurar qualquer indivíduo que ouse navegar por outras paragens.

O mundo anda chato porque a gente é obrigado a disfarçar que peças medíocres de propaganda política são grandes obras de arte. Porque os discursos de premiação são hoje mais importantes que os filmes. Porque representatividade virou o santo graal e já ultrapassou em relevância o quesito talento há muito tempo. Porque nós deixamos de nos preocupar em dar destaque a qualquer resquício de sofisticação criativa na nossa produção cultural para dar palanque a obras descartáveis construídas com o único intuito de “provocar o debate”.

O mundo anda chato porque viramos todos indivíduos artificiais tentando fingir uns para os outros que somos seres humanos melhores do que somos de verdade. Porque nos entupimos de filtros, e de censura, e de controle, e de condescendência. Porque absolutamente qualquer coisa pode ser encarada como ofensiva.

Aqui mesmo nessa rede social. Não é preciso muito tempo logado pra perceber. Há sempre um dedo na cara em riste pra alguém ou um grupo. Nunca falta algo a denunciar: uma apropriação cultural, uma indignidade, um ato indecoroso. Tudo é bronca, reclamação, mau humor. Tudo é luta, bandeira, ideologia. Cada ação é sempre em nome de um suposto bem maior.

Nós lidamos com essas pessoas todos os dias por aqui. Gente que jura ser incapaz de cometer um ato de covardia, de vilania, de mesquinhez. Gente que jura nunca ter cometido um pecado na vida. Todos semideuses ofendidíssimos. Todos digníssimos seres de luz trancafiados no confortável papel de vítima. Todos membros do inegável grupo do bem, dos autointitulados salvadores do planeta.

A nossa geração é inegavelmente frágil. Da boca pra fora a gente até assume que luta, que abraça a transformação, que protesta contra tudo que tá errado no mundo. Mas a verdade é que qualquer coisa hoje em dia é capaz de nos machucar. Nós nunca estivemos tão expostos ao ridículo.

Nós condenamos o mundo a uma histeria coletiva. E é exatamente por isso que ele nunca foi tão chato.

A bolha do Facebook

Eu acredito sim que, em certa medida, a bolha do Facebook passa a ser prejudicial. Ficar aqui só lendo os mesmos textos, as mesmíssimas opiniões do mesmo grupinho de sempre…cuidado: fará mal.

Revisar a sua opinião será, por muitas vezes, a melhor coisa que você fará na sua vida; agora, sem a provocação, o agente contrário, isso se torna impossível.

Em 2008 eu era um desses aficionados pela economia austríaca; tudo, para mim, era o que dizia Mises e companhia. Vi gente que eu considerava os caras mais espertos do mundo anunciarem o fim dos Estados Unidos por três, quatro, cinco anos seguidos:

“Haverá inflação”, “o dólar irá derreter”, “tudo isso é artificial”, “os americanos estão inflando a maior bolha da história!” e etc.

O mercado triplicou. Todos esses caras perderam a oportunidade das suas vidas (e eu também, apesar de ser um moleque quebrado à época) comprando ouro e uns ativos anti-cíclicos esquisitíssimos.

Se eu não tivesse saído desses grupos e ido para grupos de mercado, como o antigo investidores agressivos, estaria gritando “é bolha!” até hoje.

Muita gente da direita deixou de aproveitar a maior alta do mercado nos últimos 15 anos, porque acreditava piamente que o Brasil viraria a Venezuela. Que o dólar, quando bateu R$ 4,20, iria a seis, sete, nove…

A maior parte dos conservadores ignoraram os efeitos extra-políticos do governo Obama, próspero e generoso; muitos liberais comeram mosca nessa primeira parte do governo Trump, que vem sendo fantástico economicamente falando.

Há 20 anos, Warren Buffett escreveu que jamais investiria em empresas de tecnologia, seguindo a máxima anterior de que não alocaria dinheiro onde não entendesse o modelo de negócio.

Hoje, a Apple é o seu maior investimento. A sua empresa possui 239 milhões de ações; é um dos maiores acionistas da companhia. Em 2017, em uma carta aos acionistas, se arrependeu de não ter investido no Google e na Amazon. Disse que reconhecia o erro e que irá revisar essas posições, quando possível.

Mudar de opinião é para os bravos.

Verdades inconvenientes sobre a indústria dos remédios

Ai aiiiiii lá vai: “Aos 30 anos, você tem uma depressãozinha, uma tristeza meio persistente: prescreve-se FLUOXETINA.

A Fluoxetina dificulta seu sono. Então, prescreve-se CLONAZEPAM, o Rivotril da vida. O Clonazepam o deixa meio bobo ao acordar e reduz sua memória. Volta ao doutor.

Ele nota que você aumentou de peso. Aí, prescreve SIBUTRAMINA.

A Sibutramina o faz perder uns quilinhos, mas lhe dá uma taquicardia incômoda. Novo retorno ao doutor. Além da taquicardia, ele nota que você, além da “batedeira” no coração, também está com a pressão alta. Então, prescreve-lhe LOSARTANA e ATENOLOL, este último para reduzir sua taquicardia.

Você já está com 35 anos e toma: Fluoxetina, Clonazepam, Sibutramina, Losartana e Atenolol. E, aparentemente adequado, um “polivitamínicos” é prescrito. Como o doutor não entende nada de vitaminas e minerais, manda que você compre um “Polivitamínico de A a Z” da vida, que pra muito pouca coisa serve. Mas, na mídia, Luciano Huck disse que esse é ótimo. Você acreditou, e comprou. Lamento!

Já se vão R$ 350,00 por mês. Pode pesar no orçamento. O dinheiro a ser gasto em investimentos e lazer, escorre para o ralo da indústria farmacêutica. Você começa a ficar nervoso, preocupado e ansioso (apesar da Fluoxetina e do Clonazepam), pois as contas não batem no fim do mês. Começa a sentir dor de estômago e azia. Seu intestino fica “preso”. Vai a outro doutor. Prescrição: OMEPRAZOL + DOMPERIDONA + LAXANTE “NATURAL”.

Os sintomas somem, mas só os sintomas, apesar da “escangalhação” que virou sua flora intestinal. Outras queixas aparecem. Dentre elas, uma é particularmente perturbadora: aos 37 anos, apenas, você não tem mais potência sexual. Além de estar “brochando” com frequência, tem pouquíssimo esperma e a libido está embaixo dos pés.

Para o doutor da medicina da doença, isso não é problema. Até manda você escolher o remédio: SILDANAFIL, TADALAFIL, LODENAFIL ou VARDENAFIL, escolha por pim-pam-pum. Sua potência melhora, mas, como consequência, esses remédios dão uma tremenda dor de cabeça, palpitação, vermelhidão e coriza. Não há problema, o doutor aumenta a dose do ATENOLOL e passa uma NEOSALDINA para você tomar antes do sexo. Se precisar, instila um “remedinho” para seu corrimento nasal, que sobrecarrega seu coração.

Quando tudo parecia solucionado, aos 40 anos, você percebe que seus dentes estão apodrecendo e caindo. (entre nós, é o antidepressivo). Tome grana pra gastar com o dentista. Nessa mesma época, outra constatação: sua memória está falhando bem mais que o habitual. Mais uma vez, para seu doutor, isso não é problema: GINKGO BILOBA é prescrito.

Nos exames de rotina, sua glicose está em 110 e seu colesterol em 220. Nas costas da folha de receituário, o doutor prescreve METFORMINA + SINVASTATINA. “É para evitar Diabetes e Infarto”, diz o cuidador de sua saúde(?!).

Aos 40 e poucos anos, você já toma: FLUOXETINA, CLONAZEPAM, LOSARTANA, ATENOLOL, POLIVITAMÍNICO de A a Z, OMEPRAZOL, DOMPERIDONA, LAXANTE “NATURAL”, SILDENAFIL, VARDENAFIL, LODENAFIL ou TADALAFIL, NEOSALDINA (ou “Neusa”, como chamam), GINKGO BILOBA, METFORMINA e SINVASTATINA (convenhamos, isso está muito longe de ser saudável!). Mil reais por mês! E sem saúde!!!

Entretanto, você ainda continua deprimido, cansado e engordando. O doutor, de novo. Troca a Fluoxetina por DULOXETINA, um antidepressivo “mais moderno”. Após dois meses você se sente melhor (ou um pouco “menos ruim”). Porém, outro contratempo surge: o novo antidepressivo o faz urinar demoradamente e com jato fraco. Passa a ser necessário levantar duas vezes à noite para mijar. Lá se foi seu sono, seu descanso extremamente necessário para sua saúde. Mas isso é fácil para seu doutor: ele prescreve TANSULOSINA, para ajudar na micção, o ato de urinar. Você melhora, realmente, contudo… não ejacula mais. Não sai nada!

Vou parar por aqui. É deprimente. Isso não é medicina. Isso não é saúde.

Essa história termina com uma situação cada vez mais comum: a DERROCADA EM BLOCO da sua saúde. Você está obeso, sem disposição, com sofrível ereção e memória e concentração deficientes. Diabético, hipertenso e com suspeita de câncer. Dentes: nem vou falar. O peso elevado arrebentou seu joelho (um doutor cogitou até colocar uma prótese). Surge na sua cabeça a ideia maluca de procurar um CIRURGIÃO BARIÁTRICO, para “reduzir seu estômago” e um PSICOTERAPEUTA para cuidar de seu juízo destrambelhado é aconselhado.

Sem grana, triste, ansioso, deprimido, pensando em dar fim à sua minguada vida e… DOENTE, muito doente! Apesar dos “remédios” (ou por causa deles!!).

A indústria farmacêutica? “Vai bem, obrigado!”, mais ainda com sua valiosa contribuição por anos ou décadas. E o seu doutor? “Bem, obrigado!”, graças à sua doença (ou à doença plantada passo-a-passo em sua vida).”

Dr. Carlos Bayma

TEXTO de Julia Rosa Sposito

Fechamento da Lush no Brasil

Algumas pessoas leram o meu último post, em que comentava sobre o fechamento da Lush no Brasil, e me acusaram de “White People Problem”.

Para quem não sabe o que é isso, se trata de alguém que, alheio aos reais problemas da sociedade, aponta ruínas onde não existe.

Eu entendo que o Facebook caminhou justamente para isso: dois grupos de pessoas, um à esquerda e outro à direita, que são incapazes de dialogar sobre qualquer coisa, tornando todo tipo de assunto uma partida de futebol.

O mais engraçado é que são, justamente, os mais à esquerda do prisma político que, através dessa política do White People Problem, desarranjaram o país.

Vocês lembram quando a Maria da Conceição, economista, petista, que atualmente declara o seu voto na Manuela D’ávila, disse que ninguém come PIB? Que comemos pão e que o desaquecimento do país não deveria ser um indício de problema?

E quando a Dilma decidiu que, de repente, meteria a caneta no preço da energia, fazendo aquela bagunça toda no setor elétrico e, de quebra, levando algumas empresas ao sumiço?

Ou quando o ex-presidente Lula insistiu que a crise era só uma marolinha? Que estávamos protegidos?

E que, logo depois dessas alegações, que foram repetidas ao longo de anos, jogando todos os problemas para debaixo do tapete, o ministro Guido Mantega também manifestou a sua opinião de que quem apostasse contra o dólar quebraria a cara?

Quatro sentenças, quatro expoentes da esquerda, quatro decisões e quais foram os resultado? Crise, o fechamento de milhões de postos de trabalho, a economia travada, a energia voltando a subir, com o sucateamento da nossa rede elétrica e o dólar na maior cotação dos últimos 25 meses.

Ontem eu estava caminhando pela rua, lá em São Paulo, quando passei em frente a um ambulante que vendia frutas. Ele tinha uma daquelas maquininhas, a amarelinha da UOL. Agora ele aceita cartão de crédito.

Essa maquininha, que não cobra mensalidade, permite que o seu João pague apenas 2.9% sobre cada fruta vendida; antes ele teria que pagar 60 reais por mês e quase 11% por venda, pela Cielo ou pela Master.

Imagine o Uber: quantos trabalhadores (centenas de milhares? milhões?) não estão conseguindo pôr comida na mesa justamente porque, nesse cenário de desemprego, conseguem ganhar algum dinheiro com o próprio carro?

Antes, precisariam de autorizações do governo, caras e represadas, placas de táxi e rádios que custavam até seiscentos mil reais.

Hoje, eles ligam o aplicativo e saem dirigindo.

Quando você comemora o fechamento de qualquer empresa, ainda que ela trabalhe no mercado de luxo, você está dando um tiro no próprio pé. Se a Lush fecha no Brasil, os mais ricos, seus consumidores, são os menos atingidos. Eles podem importar ou viajarem para os Estados Unidos.

Isso é o de menos. Eles foram privados apenas do produto.

Agora, quando a Lush, ou qualquer outra empresa, encerra as suas atividades no país, postos de trabalho são fechados. Oportunidades de carreira somem do mapa, impostos deixam de ser recolhidos pelo estado e até mesmo os sindicatos perdem com isso.

Ou seja: toda a base da pirâmide sofre com a perda de oportunidades de trabalho, em um país que conta com mais de 12 milhões de desempregados.

E os mais ricos? Agora eles usam outra marca de sabonetes.

Enquanto os líderes de esquerda, os demagogos e populistas, iludem as classes mais baixas com essa tal “guerra de classes”, são as empresas que, aos trancos e barrancos, ainda mantém a casa em ordem.

Nenhum político fez tanto pelo Pedro do Uber quanto a própria Uber. Nenhum líder sindical fez tanto pelo João das frutas quanto a maquininha amarela da UOL.

Eu sei que, em um país desigual, pode soar esquisito aos ouvidos alguém falando de uma empresa que encerra as suas atividades enquanto 60 mil pessoas são assassinadas por ano; enquanto mães perdem os seus filhos por balas perdidas de fuzil. Mas, ao final de contas, de quem é a culpa?

Da Lush? Da Ferrari? Da Apple? Da classe média que deixa cinquenta por cento de tudo que produz ao governo e que tem que pagar tudo, mais uma vez, na iniciativa privada?

A culpa são desses mesmíssimos políticos populistas, que sabem exatamente o que estão fazendo, mas que fingem que não sabem, que prometem mundos e fundos aos mais pobres. Que abusam da boa vontade das classes mais baixas para sucatear (e saquear) o país. Que some com as nossas riquezas enquanto mandam seus bilhões para a Suíça.

E aqui eu falo de direita e esquerda: de Lula, Cunha, Aécio e Cabral. De todos eles. De todos esses caras.

Quando o dólar explode ou quando a Apple decide que, aqui no Brasil, computadores só podem ser vendidos acima de dez mil reais, o rico continua comprando lá fora e usufruindo do poder de processamento e das soluções dessas empresas, enquanto que, aos mais pobres, restam as soluções menos eficientes, piores, por cinco ou seis vezes o valor e dividido em doze vezes.

Não é esquerda contra direita, é você contra os excessos, as regalias e a aristocracia do estado.

(Créditos: Icaro de Caralho)

Produtividade e infraestrutura de transportes

Se existe algo que sempre me surpreende quando eu volto dos Estados Unidos para o Brasil é a velocidade.

Podemos concluir, por cima, que produtitividade é o resultado do volume de problemas resolvidos versus a quantidade de tempo utilizado.

Assim sendo, você percebe que o Brasil não é um país pobre apenas por conta da desigualdade ou da corrupção; nós somos lentos demais.

E essa lentidão é o resultado da falta de investimento em logística, processos e novas tecnologias; mas, mais do que isso: é cultural.

O brasileiro dá valor a alguns fatos sociais, como a cortesia e a intimidade, mas se irrita facilmente quanto lhe é exigido que seja rápido. Que vá direto ao ponto.

Enquanto eu voltava para Santos eu observava aquela longa fila, à direita, de caminhões subindo para São Paulo, saindo do Porto, a 25KM por hora. São toneladas e mais toneladas de cargas praticamente estacionadas.

Americano, alemão ou suíço já teria resolvido isso de uma vez por todas. É burrice não resolver.

Por sua vez, essa carga, que sobe se arrastando, destrói o custo por viagem do empresário. Arranca dele a margem para um novo investimento e atira o custo do produto lá pra cima. E eu nem estou falando de impostos ou de taxas; falo apenas de traslado!

É um processo logístico que, por ser empobrecido, vai te tornando cada vez mais pobre.

Ali perto da Times Square tem um Starbuck’s que funciona com três funcionários — e eles atendem um mundaréu de gente. Cada copo é lavado, em um segundo, em uma pequena serpentina de água. Colocou o copo ali e ele sai lavado. Pronto, você já bota pra secar.

Chegando aqui no Brasil eu pedi um café e também o açúcar mascavo e o cara demorou cinco minutos para descobrir aonde estava o açucareiro, porque “algum cliente levou e não devolveu”.

A cafeteria do aeroporto da principal cidade do país tem um açucareiro de açúcar mascavo. Quando ele some o funcionário, que custa duas vezes mais do que produz, graças aos encargos, tem que parar de trabalhar para sair caçando o negócio.

Agora, peguei um fretado para resolver algumas coisas em São Paulo. O negócio é uma máquina de perder tempo: você tem que apresentar os seus documentos tanto no guichê quanto na entrada do ônibus, mas, mesmo assim, as pessoas insistem em guardá-los. Logo, o tempo de retirar a carteira dos bolsos e mostrar a CNH para o responsável se replica em ambas as filas.

Lá fora você vai no caixa automático, seleciona a viagem e a cadeira, passa o cartão e acabou. Trinta segundos.

E eu poderia passar o dia inteiro falando sobre isso, mas a conclusão mais importante que eu tiro disso tudo é que essas soluções poderiam existir aqui no Brasil, mas muitas delas não existem porque a eficiência não faz parte do imaginário do brasileiro.

Você poderia reduzir o tempo da fila na metade com um comprovante online, mas não faz isso porque você ainda não se importa em imprimir cinquenta centímetros de ticket na impressora matricial. Da mesma forma, aposto que ter um único açucareiro nunca foi objeto de reflexão para o dono do café do aeroporto.

Provavelmente o brasileiro não quer ir direto ao ponto em todas as reuniões, resolvendo tudo em quinze minutos. Parar para o cafezinho só no horário de almoço. E quem exigir isso será o chato da mesa.

E é por isso que é tão importante você aprender um novo idioma e conhecer outras culturas; caso contrário esse contraste jamais se tornará evidente aos seus olhos.

Da próxima vez que você achar que a nossa justiça demora e que ela tem recursos demais, lembre-se que ela é apenas o reflexo de uma sociedade que ainda não conseguiu se arranjar para emitir uma passagem de ônibus ou servir um café. 🙂 

(Por: Ícaro de Carvalho)

Aos meus amigos de direita

Diante dos últimos acontecimentos, tenho visto muitos amigos de direita açodados na defesa da punição de corruptos, se posicionando a favor da execução de pena após condenação em segunda instância, contra a concessão de habeas corpus, separando ministros da Suprema Corte em prós ou contra corrupção etc. A defesa da justiça isonômica é um imperativo em qualquer democracia, mas quanto à leitura dos fatos e aos métodos, penso que devam ser expostos ao escrutínio.

Primeiramente, o que diz a Constituição sobre penas:

“Art. 5º, inc. LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”

Trânsito em julgado entende-se por uma decisão da qual não se pode mais recorrer. Bom, então tem-se que ninguém pode ser considerado culpado até que tal decisão irrecorrível seja tomada. Se não pode ser considerado culpado, pode um inocente cumprir pena? Evidente que não. Vale salientar que isso não tem a ver com a prisão em flagrante, temporária ou preventiva.

Não estou entrando no mérito de que a justiça vá ser mais ou menos efetiva com isso ou sem isso, ou que em outras democracias não acontece assim e tal. Inclusive, concordo que seria melhor se as penas fossem executadas após segunda instância. Mas não é o que está escrito. O que está escrito é o que deve ser cumprido.

John Locke, um dos teóricos mais relevantes do liberalismo, sustentava que a soberania deveria ser do povo e não do Estado. Sendo assim, o Poder Legislativo, que deve ser escolhido e nomeado pelo povo, é o mais importante e o único que tem legitimação para fazer leis — leis estas que devem apenas proteger os direitos naturais (vida, liberdade e propriedade) e devem ser equânimes (“para ricos e
pobres, para favoritos na corte ou camponeses no arado”). A esquerda que sempre defendeu tratamentos e critérios dessemelhantes na aplicação da lei, justamente por seus conceitos abstratos de justiça e por considerarem seus motivos os mais nobre de todos e que por isso devem estar acima até da lei.

Quando um tribunal decide algo sem respaldo na lei ele está legislando. Qualquer liberal seria rigorosamente contra qualquer decisão em desacordo com o que está escrito. Nesse caso, quem está no lado liberal da história: sujeitos como Roberto Barroso e Edson Fachin ou Gilmar Mendes e os outros?

“Ah, mas não é essa a intenção deles. Gilmar Mendes foi a favor da prisão em segunda instância da outra vez. Ele e os outros só querem defender bandido”

Bom, eu não estou na cabeça de ninguém pra saber intenção. Eu defendo que cada Poder exerça sua função de acordo com o que foi escrito por pessoas escolhidas pelo povo para este fim. Enquanto fizerem isso, eu defendo, mesmo que a contragosto; quando não fazem, critico. Ademais, Rosa Weber também mudou o voto. Ela agora está certa ou errada? Qual é a intenção? Mudar de opinião só vai ser legítimo quando se defende o seu ponto de vista?

Costumo reiteradamente defender a institucionalidade. Lulas, Malufs, Aécios et caterva são passageiros. Lula, por exemplo, tem 70 e poucos anos, daqui a alguns anos nem estará mais nesse plano. E o que vamos ter? Instituições autocráticas sujeitas às venetas dos seus membros?

Por exemplo, notem que sujeitos como Fux e Barroso é que decidiram por ampliar o auxílio moradia a todos os magistrados, a despeito do teto constitucional, e “legalizar” o aborto por meio da canetada, em desacordo com o Inciso XI, do Art. 37 da CF e Art 124-126 do CPP, respectivamente. E não se enganem: não apenas eles, mas esses procuradores, policiais e juízes que vivem se manifestando politicamente nas redes sociais fazem parte da mesma escola de Direito. E não é coincidência terem votado em candidatos como Lula (como afirmaram Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, por exemplo). Embora sejam, de fato, aversos à corrupção — por isso romperam com a esquerda fisiológica e corrupta —, partilham da mesma concepção de Estado.

A direita não pode ser reduzida a ódio contra bandido. Mesmo a direita mais conservadora e menos liberal deve se preocupar com a preservação das instituições, pois são elas justamente um dos pilares do conservadorismo.

Enquanto fazem odes a essa turma, não sabem que são eles os mesmos que tentarão, sem respaldo na lei e sem voto nenhum, através do seu Direito criativo, impedir qualquer tentativa de desburocratização, privatizações, políticas e reformas liberalizantes necessárias ao crescimento do país. Mas, ao que parece, nada disso importa, desde que Lula esteja preso.

(De: Ciro Guilherme)

Lula condenado?

A prisão de Lula não deixa de ser triste, pois revela o fim de um projeto inovador na sua origem, projeto que foi cavando a sua cova com os próprios pés. O fracasso de Lula e do lulismo é o fracasso da classe trabalhadora, graças a significativa contribuição dada pelo líder e seus confusos parceiros (PC do B e MDB juntinhos soa picaretagem…) hoje em vias do cárcere.

A derrota sempre carrega muitos fatores. Eu vibrei muito com o PT. Votei 5 vezes nele. Em 2002 , acompanhei a discussão interna mas a Articulação, majoritária, escondeu detalhes do acordão com o PMDB para chegar ao poder sem hegemonia…Ali na “explosao” (euforia) da “conquista do estado” e da progressiva real polítik as más tradições foram minando o projeto. UNE, MST, Centrais foram deixando de fazer movimento social, afinal, estavam dentro de um governo com belíssimos programas de integração social. Fomos vendo o outro lado da moeda. O incentivo a bancos com lucratividade estratosférica, casada com ênfase no agronegócios via commodities em detrimento de uma política alimentar de custo mais popular para os nacionais, e o progressivo sucateamento da indústria nacional. O Transformismo foi ficando claro, não guerra de posição. Revolução passiva, talvez? Dilma na escolha (personalista) e no segundo turno, outro erro. O PT ja contaminado pela corrupção que o PMDB lhe ensinou…Crise global de 2008, a sentença ao acordo pelego. A fragilidade da nossa inserção internacional, os enganos em ser parte de uma globalização seletiva e reacionária casada com equivocadas políticas “ideológicas” na A. Latina e no Irã…deu no que deu.
O PT esgotou sua potencialidade e ajudou a produzir a derrota. Derrota dos trabalhadores, derrota do Brasil. Cadê a autocrítica interna? O centralismo burocrático sempre mandou, de SP… Vai tentar empurrar como candidato, sem discussăo, Haddad…sem as características de liderança de dois sincofantas, Ciro bufão, nascido na Arena, partido dos militares, camaleão, versátil em mudar de partido e ideias…e Bolsonaro, o ovo da serpente, a Peste, esse sim um fascista tardio na direção de um nazismo à brasileira. Num momento terminal para o neoliberalismo e para o próprio capitalismo, diz Paul Mason. E nós sem força para percebermos as possibilidades que as crises também fomentam.. Em “17 Contradições” David Harvey e na coletânea “Nós que amávamos tanto o Capital” José Arthur Giannotti, aqueles marxistas insistem, próximos a Mason, na questão das inovações tecnológicas, hoje inapropriadas, pela primeira vez, ao movimento de acumulação do Capital em curso…


Apertem os cintos. Boa sorte pra todos nós. O circo vai pegar fogo.

(Por: Edmundo Arruda)

Espiral do Silêncio

Gostaria de poder falar e me expressar como vocês, mas tenho diversos limitadores, legais, profissionais (mesmo não estando na ativa eu estou na reserva remunerada, com os mesmos direitos e deveres) e principalmente aqui nas mídias sociais!

Aprendi a desenvolver o combate até onde os meios recebidos e a até onde a capacidade individual permite! Exército não declara guerra, executamos a guerra, quem declara é a diplomacia de um país e quem financia é o governo! No caso do Vietnã os americanos não deram uma surra maior porque o governo não quis, hoje já sabem que a mídia e políticos foram comprados para isso acontecer! Então estou sendo o reflexo dos meus seguidores, e estou indo longe!

Aqui no Brasil a guerra é psicológica, falam em armas para defender Lula mas o máximo que vai acontecer são pequenos entreveros realizado por mercenários ou por idiotas úteis, sem a participação dos seus “líderes”, mas estes “líderes” sabem usar os corpos dos idiotas com maestria! Mas não há previsão, ainda, de uma guerra generalizada pois esse é o terreno das Forças Armadas e eles sabem que vão perder! Não confunda com a violência urbana ou milícias, esses movimentos são reflexos de governos corruptos e da injustiça! Políticos e forças internacionais roubam outras coisas mais valiosas, e a violência urbana serve para desviar o foco!

Então essa guerra é do medo, do psicoterror de massas vindo dos políticos e da mídia, e isso só atinge os civis, então aprendam a diferenciar os inimigos e serão mais eficientes!

Nós já temos a maioria dos 5%, falta eles sairem da inércia e se mobilizarem, sabem o que fazer mas ficam na dúvida por causa da “Espiral do Silêncio”, é um jogo de xadrez! Vai piorar, para aqueles que não conseguem enxergar ainda o Teatro de Operações, para quem percebeu que tudo é fantasia vai trabalhar para ensinar isso aos outros!

Apenas espero terminar isso e após a vitória jogar cada carta merecida sobre os corpos dos inimigos da nação brasileira, isso pode ser no sentido figurado ou não, e não queira saber a minha vontade! Mas militares podem ser acionados pelos 3 Poderes, dentro de uma normalidade constitucional, ou pelo povo quando este não acredita mais em suas Instituições!

(Por: Durval Ferreira)

Ali Babá e catervas na caverna da República

Diz a lenda que Ali Babá tinha um bando composto de quarenta ladrões. É de se pressupor que sendo indivíduos, apresentassem diferenças de personalidade, inteligência, experiência, até mesmo de variações de caráter. Sim, caráter. Até para roubar em grupo há que se ter uma atitude, uma ética, agir elegantemente no exercício da arte da subtração da coisa alheia.

Assim sendo, entre os ladrões de Ali Babá alguns eram mais jovens e outros mais velhos, sábios. Estes recebiam os neófitos e lhes repassavam o apreendido no exercício do crime.

Ali Babá encontrava-se um tanto desgastado na rapinagem. Seu país enfrentava uma crise econômica, social, política e moral. Eles já ultrapassará a idade da plena energia.

Todos queriam apropriar -se da sabedoria dos antigos. Estes os aconselhava a furtar em pequenas montas para não deixar suspeitas tão evidentes, sempre procurando contemplar todos os partípes. Nunca repetindo a operação na mesma semana e com a mesma vítima. Também a experiência dizia que na hierarquia dos gatunos uns participariam do planejamento, outros na difícil tarefa da logística, os mais impetuoso cabiam as diversas ações práticas, das mais simples às mais arriscadas.

Nem todos repartiam da mesma maneira o fruto do trabalho conjunto. Sim, viam- se como profissionais. Havia um corporativismo hierárquico, com reconhecimento de qualidades tais quais: ideias, liderança, capacidade técnica e respeito aos mais idosos e experientes. Um defendia o outro quanto aos seus lugares e funções na super quadrilha.

Então um brilhante larápio da turma dos jovens manifestou o desejo de ser o novo chefe da gangue. Por que não mudar? Bom para democratizar decisões, planos, riquezas.

O velho Ali Babá percebeu a movimentação. Então propôs partilhar o poder e o dinheiro, jóias, ouro, capitaneados em assaltos a carruagens, bancos, mesmo de algum marajá. 40% ficariam para a garotada e/ou de meia idade e 60% para os da terceira idade e pés na cova.

Um jovem ficaria na presidência para o gosto dos mais jovens e ambiciosos. O poder é afrodisíaco, dizem. A coisa foi funcionando bem mas havia segredos guardados a sete chaves, sutis artimanhas para golpes de mestre. A cereja do bolo era destinada a ocasiões raras.

Os ladrões no poder começaram a ficar gulosos. Tinham curiosa ideia de ampliar seus percentuais de ganhos nas falcatruas.

O antigo chefe percebeu a armou uma arapuca para os ladroezinhos. Anunciou um grande assalto aos cofres do homem mais rico daquelas terras. Repassou aos rapazes mapas, códigos secretos, horário mais adequado para não serem surpreendidos pela polícia, etc.

Também ficou acertado que tudo seria dividido igualmente entre os dois grupos. Meio a meio.

Então os bandidinhos decidiram agir. E se foram na direçăo da verdadeira fortaleza da poderosa vítima.

Seguiram fielmente as descrições de túneis, pequenas pontes suspensas, desviando-se do corpo de segurança. Quando finalmente abriram os cofres encontraram os tesouros, mas, insatisfeitos, reclamaram da quantidade de diamantes, rubis, prata esmeraldas, etc. Pegaram 70% para eles e só repassaram para o Velho Ali Babá e seus velhinhos 30% das jóias. Este agradeceu muito e elogiou a capacidade dos jovens marginais. Vivido, percebeu o chriri da maracutaia na partilha do tesouro furtado.

Confidenciou aos ladrões em início de carreira que não esperava tanta competência, lealdade, gratidão. Ofereceu-lhes uma informação preciosa. Havia naquela fortaleza do homem mais rico da gleba uma adega com 1000 garrafas com pérolas negras. Os garotos estavam autorizados a resgatar essa segunda parte do tesouro. É que poderiam ficar com 60%.

Durante a madrugada os meninos saíram afoitos para a segunda operação de furto em menos de uma semana. Levaram todas as diretivas para a boa consecução da empreitada.

Os ladrões sábios tinham duas surpresas para os jovens. Estes haviam sido seguidos quando do primeiro evento na mansão do milionário. Sabiam que os sacos contendo o produto do crime eram muito diferentes, com dimensões absolutamente contrastantes. O saco dos decanos dos golpistas era pequeno se comparado com o dos iniciantes no ofício da ladroagem. Não foi difícil para os velhos descobrir onde havia sido guardada as relíquias do assalto.

Dessa surpresa os jovens nunca tiveram ciência, pois não voltaram para a caverna.

Os ladrões maduros avisaram ao homem rico que bandidos muito inexperientes iriam tentar chegar à grande casa dele para roubar as famosas pérolas. Estas valiam cem vezes mais que o conjunto do que fora roubado da primeira vez. O homem rico ficou muito grato a Ali Babá e lhe concedeu como prêmio a totalidade daquele tesouro levado pelos gananciosos marginais no primeiro assalto.

Quando os jovens ladrões chegaram foram surpreendidos pela guarda privada do milionário. Presos e envergonhados nada contaram sobre o primeiro furto, pois a reinciděncia acarretaria a pena de morte naquela região.

Foram condenados a 40 anos de prisão, incomunicáveis. Sairiam da prisão muito velhos, sem experiência, sob a mácula de ex-detentos e, entre os bandidos de toda aquela província, desmoralizado como seres abjetos, anti-éticos, incompetentes, ingratos. Jamais poderiam ser integrados àquela corporação, por nítida quebra de confiança e da honra , exigidas numa profissão respeitável entre seus pares. Mesmo ilegal, criminosa, ela implicava no respeito que bandidos sofisticados logram conquistar, como os corsários, piratas e tantos outros fora das Leis.

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Moral da estória 01: ladrões inexperientes, impetuosos, gulosos, ingratos, sempre têm muito a apreender para poderem ser considerados verdadeiros profissionais. O desejo e a gula são diretamente proporcionais à suas faltas. Acabam indo para a prisão antes de seus Mestres.

Moral da estória 02. Os ladrões mais experimentados ensinam sempre parte do que sabem aos ladrões novos. Uma margem considerável da expertise é resguardada como parte do processo pedagógico. Na arte de formar uma geração de competentes profissionais do crime é tradição manter uma ou duas cartas na manga. Elas ajudarão aos discípulos a aprender, por bem ou por mal, a respeitar seus Mestres.

(Por: Edmundo Lima de Arruda Jr)

HC do Lula

Nos últimos dias, na iminência da prisão de Lula, havia pressão de ministros do STF para que a presidente Carmen Lúcia pautasse as Ações Declaratórias de Constitucionalidade, que, diferente da decisão proferida pelo tribunal em um Habeas Corpus em 2016, têm efeito vinculante (deve ser aplicado obrigatoriamente em todos os casos), o que, enfim, poria fim à discussão de ser possível ou não a execução de pena depois de exauridos os recursos em segunda instância. A ministra não quis pôr a ADC em votação; achava que isso “apequenaria o tribunal”, pois a suposta celeridade na apreciação do caso favoreceria o ex-presidente.

Vou fazer uma analogia. Se uma pessoa que tem o costume de limpar a calçada na frente do seu prédio decide parar de fazê-lo porque chegou um vizinho novo que ela não gostou e isso indiretamente favoreceria ele, ela também não estaria se “apequenando” tendo que suportar uma calçada suja? Do mesmo modo, um tribunal se apequena quando faz ou deixa de fazer algo por causa de um réu específico, seja essa decisão em prol ou contra ele.

Ela resolveu não pautar, mas, aos 45 do segundo tempo, resolveu, então, colocar o Habeas Corpus de Lula para votação. Como?! Colocar a ADC em votação é apequenar o tribunal, mas colocar o HC não é?! Por quê? No fundo, a ministra sabia que na votação das ADCs, a maioria decidiria por considerar inconstitucional a execução de pena após condenação em segunda instância, mas no HC ela sabia que Rosa Weber poderia, como de costume, votar de acordo com o decidido pelo colegiado anteriormente, mantendo a possibilidade de prisão em 2º grau. Ou seja: ela queria Lula preso.

Acontece que como uma decisão de HC não tem efeito vinculante, poderia acontecer de em alguns casos um HC ser concedido e em outros, não. Ou seja, geraria uma instabilidade monumental. Com base nisso, advogados entraram com uma liminar pedindo suspensão da prisão em segunda instância até que se apreciem as ADCs.

Provavelmente por perceber que Lula poderia não ser preso, o TRF-4 resolveu acelerar o processo, atropelar os recursos, contrariar o vezo do próprio tribunal e a palavra do seu presidente, e autorizar a prisão do molusco, jogando no colo do STF o eventual ônus de soltá-lo. Tudo pode acontecer agora.

Se houve movimentação para que ele não fosse preso? Possivelmente, sim. Mas nem cabe agora fazer tais conjecturas. É evidente que Lula é culpado e merece ser preso como qualquer outro criminoso, mas não acho correto abrir mão da institucionalidade por isso. É apequenar o país.